sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

"Designer faz desenhos para pagar dívida à Segurança Social"

Confrontada com uma dívida à Segurança Social, uma designer resolveu fazer, de uma vez, centenas de desenhos para conseguir liquidá-la. Margarida Alfacinha mostrou ao Expresso alguns dos 201 que já pintou.

Perante o problema, Margarida Alfacinha concentrou-se na solução. Em outubro do ano passado, depois de receber uma notificação para pagar 7500 euros à Segurança Social, dívida resultante de um período a trabalhar como "falso recibos verdes", a designer resolveu pintar 375 desenhos para angariar o dinheiro a pagar ao Estado.

Da ideia à ação, Margarida apressou-se a lançar - literalmente - as mãos à obra e vai já no 201º desenho. "No fundo são mais pinturas", trabalhos que tem realizado com os materiais que tinha no ateliê, cumprindo tão disciplinadamente "quanto a criatividade vai permitindo" um calendário "rígido" pré-definiddo.

Margarida, 37 anos, tem dois filhos e é desde há algum tempo gerente da loja A Casa Portuguesa, o que significa que o projeto "Quando uma dívida se torna uma dádiva" está a ser realizado depois do horário laboral e aos fins de semana.

"Saio e vou a correr para o ateliê", conta ao Expresso, "tentando fazer entre oito a dez desenhos por dia, durante a semana, e 15 a 20 aos sábados e domingos".

Para divulgar a iniciativa, criou uma comunidade no Facebook, com o nome do projeto, e vai divulgando a evolução do seu trabalho no blogue www.375desenhos.blogspot.com. Se tudo correr como previsto, cada desenho será vendido por 20 euros.

Também à venda online Nos dias 16 e 17 de março todos os desenhos estarão expostos na Casa da Achada, em Lisboa, onde poderão ser adquiridos, "embora muitos deles possam estar nessa altura já reservados, porque as obras também vão ser vendidas online e enviadas pelo correio depois desta data", explica a designer.

Os desenhos são únicos, numerados, assinados e trabalhados num formato idêntico, em folhas com 24 por 15 centímetros.

Tem sido difícil encontrar inspiração? "Os desenhos estão a resultar no oposto do que é a dívida. Quando os faço penso nos problemas das outras pessoas e na situação actual do país, mas esforço-me por traduzir o inverso", confidencia Margarida Alfacinha, que prefere "pintar coisas positivas: o futuro, a alegria, a felicidade e o que de mais positivo encontro na vida".

A sua vontade é que os compradores dos seus trabalhos encontrem neles "a esperança e, sobretudo, a capacidade de agir". A mesma que a levou a descobrir, com originalidade, uma via para resolver um problema de difícil resolução.

"Na altura a que esta dívida remonta, com o valor que estava a receber, embora numa empresa a tempo inteiro, mas a recibos, não tinha possibilidade de pagar todos os meses a Segurança Social, e agora também não queria fazer nenhum empréstimo ou pedir dinheiro a ninguém", confessa. "Pensei: 'o que sei realmente fazer que me permita conseguir esta quantia?' Sei desenhar. Foi desta constatação que parti".

Mafalda Ganhão, Expresso.

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